Fobia de direção pode ser curada

Roberto Lucena - Repórter - TRIBUNA DO NORTE
Ver imagem em tamanho grandeQuando o instrutor da auto escola avisou que a aula do dia seria na Via Costeira, Doralice de Melo, 27 anos, fez o sinal da cruz e, esboçando um sorriso nervoso, disse: “Ai, meu Deus”. A reação de medo ao aviso do professor, poderia ser facilmente compreendida caso Doralice nunca tivesse dirigido. Não é o caso. Há mais de dois anos, a supervisora de telemarketing possui a carteira de habilitação, mas nunca conseguiu dirigir sem o auxílio de uma pessoa. Doralice sofre com o que os psicólogos chamam de “Síndrome do Carro na Garagem”. A fobia do trânsito é mais comum do que se imagina. Atentos a esse problema, surge no mercado auto escolas especializadas nessa questão.

De acordo com a psicóloga Patrícia Guardia, os fatores que levam uma pessoa a ter medo de dirigir são vários. Engana-se quem pensa que só os que já foram vítimas em algum acidente no trânsito desenvolvem esse tipo de fobia. “As pessoas desenvolvem esse medo só de ouvir falar nos acidentes que acontecem. Elas acham que vão bater, machucar alguém”, diz. “Não dá para traçar um perfil exato de quem pode sofrer com o problema, mas, no geral, são pessoas perfeccionistas, que não gostam de críticas e têm medo de errar. O número de mulheres é bem superior ao dos homens”, acrescenta.

O medo de se envolver em um acidente de trânsito é um dos fatores que contribui para o surgimento da fobia. “Muitas pessoas relatam que sentem medo só de ver as estatísticas dos acidentes. Acham que todo acidente com carro mata. Isso não é verdade”, diz Patrícia Guardia.
A intervenção de outras pessoas na hora do aprendizado também pode atrapalhar. Foi o que aconteceu com a arquiteta Kércya Duarte, 32 anos. Aos 20, ela decidiu procurar uma auto escola para tirar a carteira de motorista. À época, fez as dez aulas práticas obrigatórias sem problemas. Já com a carteira em mãos, sempre dirigia com o pai acompanhando no banco do passageiro. “Foi aí que começou o problema. Ele ficava me corrigindo, sempre dizendo que eu ia bater”, conta. A psicóloga Patrícia Guardia explica que há um excesso de zelo dos pais, e isso pode prejudicar o processo de aprendizagem. “Os pais não querem que os filhos errem, mas o erro faz parte desse processo, é natural do ser humano”, pondera.

A profecia do pai não se concretizou e Kércya nunca se envolveu em acidentes no trânsito. Nem ela, nem ninguém da família. Porém, passado apenas um mês após retirar a CNH, a arquiteta não aguentou a pressão do pai e decidiu parar de dirigir. “Era muito chato. Ele ficava com a mão sempre em cima do freio de mão. A pressão dele fez com que eu criasse medo. Entreguei a chave do carro e nunca mais dirigi”.

Os sintomas de quem sente fobia por dirigir são parecidos com os sintomas de outras fobias. A psicóloga Patrícia Guardia acrescenta. “Há casos de pessoas que sofrem com a ansiedade um dia antes de dirigir”.

saiba mais - Dicas para perder o medo no volante
1 Compasse a sua respiração. De boca fechada, inspire lentamente pelo nariz e vá sentindo o ar chegar até os seus pulmões. Deixe seu abdômen expandir enquanto inspira, utilizando o músculo diafragma. Depois expire devagar pela boca;

2 Faça algum tipo de atividade física e relaxamento muscular. O exercício produz endorfinas, substâncias que neutralizarão a química da ansiedade;

3 Inicie uma aproximação com o carro mesmo dentro da garagem. Entre, ajuste o banco, sinta o espaço interno, ligue e desligue o carro;

4 Ainda dentro da garagem, ligue o carro e faça pequenos movimentos para frente e para trás;

5 Dê voltas no quarteirão em horários sem movimento;

6 No começo, escolha sempre um ou dois trajetos. Isto evitará ansiedade;

7 Transforme o exercício de aprender a dirigir em hábito diário;

8 Quando se sentir confiante, inicie trajetos maiores ou que tenham subidas e uma maior quantidade de veículos.

Fonte: “Vença o medo de dirigir”, Neuza Corassa (Gente, 2006)

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